quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O maior veneno

O maior veneno
Ela chora.
Não há como sobreviver ao veneno da discórdia. Se deusas sucumbiram a ele, que chance nós havemos de ter. É lançada despercebidamente por alguém próximo, que tem acesso aos corações visados. E assim contamina pelo ouvido o coração e enegrece rapidamente a alma. Dentro do coração envenenado, depois de constatado o seu total domínio, a discórdia da à luz a sentimentos que logo assumem a forma de palavras grosseiras que machucam.
Dois amantes, num instante, se fazem estranhos. Um deles recebera na alma o negro veneno. A boca que docemente beijava, agora profere palavras amargas e espessas. Não mais juras de amor, nem cantos jubilosos, nem sorrisos, nem nada. Somente palavras negras tal qual o veneno que as gerara.
Daí o chorar dela, que sempre amou, que sempre serviu, que sempre foi mulher. Ferida na alma, que ainda alva, chora. E, se chora , é porque dói o amor que sente. Amor de mulher, de mãe.
Chora a morte do amor que por ela sentia seu homem. Vítima da discórdia foi esse amor. O coração, fonte de palavras hoje enegrecidas, já fora todo cheio de amor por ela.
O coração aquecido pelo amor fornecia à boca palavras quentes e tão puras que ela as tomava pela sua própria boca: beijos doces e cálidos. As mãos traziam sempre consigo um afago saudoso e os olhos explicitavam a verdade do amor.
Mas a flecha negra tinha de lhe perfurar o peito e depositar sordidamente o diabólico veneno  em tão apaixonado coração.
Daí a dor, daí o choro. Sofre a mulher! Como sofre?! Não sabe, porém, que o seu amor está ferido. O homem que lhe ataca está enfermo. Foi contaminado pela língua dos que porfiam. Cego e de alma amarga. Esse é o estado do que é mordido pela discórdia.  


(David Luz em 22/03/14)

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