quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Da cegueira sobre o ensaio

Da cegueira sobre o ensaio

Acatai da voz o poder que lhe é dado.
Curvai as miseráveis vértebras.
Ao chão!
Ao chão,


fitai os olhos ressecados:
não podeis chorar.

É pelo bem nobre que sofreis

(Por causa nobre é que vos perece a liberdade).
Nem sabeis vós que sois heróis cegamente.


Firmai as pernas!

Afrouxai os braços!
Posto que das firmes pernas
Há para voz assento;



Dos frouxos braços
Resulta à voz descanso.

Rio de Janeiro, novembro de 2011,

Conto curtinho

Era uma vez um homem, um carro e um semáforo.
O semáforo disse:
-- Pare!
-- Não! Respondeu o homem.

O carro, se quer, teve tempo de se pronunciar.

O maior veneno

O maior veneno
Ela chora.
Não há como sobreviver ao veneno da discórdia. Se deusas sucumbiram a ele, que chance nós havemos de ter. É lançada despercebidamente por alguém próximo, que tem acesso aos corações visados. E assim contamina pelo ouvido o coração e enegrece rapidamente a alma. Dentro do coração envenenado, depois de constatado o seu total domínio, a discórdia da à luz a sentimentos que logo assumem a forma de palavras grosseiras que machucam.
Dois amantes, num instante, se fazem estranhos. Um deles recebera na alma o negro veneno. A boca que docemente beijava, agora profere palavras amargas e espessas. Não mais juras de amor, nem cantos jubilosos, nem sorrisos, nem nada. Somente palavras negras tal qual o veneno que as gerara.
Daí o chorar dela, que sempre amou, que sempre serviu, que sempre foi mulher. Ferida na alma, que ainda alva, chora. E, se chora , é porque dói o amor que sente. Amor de mulher, de mãe.
Chora a morte do amor que por ela sentia seu homem. Vítima da discórdia foi esse amor. O coração, fonte de palavras hoje enegrecidas, já fora todo cheio de amor por ela.
O coração aquecido pelo amor fornecia à boca palavras quentes e tão puras que ela as tomava pela sua própria boca: beijos doces e cálidos. As mãos traziam sempre consigo um afago saudoso e os olhos explicitavam a verdade do amor.
Mas a flecha negra tinha de lhe perfurar o peito e depositar sordidamente o diabólico veneno  em tão apaixonado coração.
Daí a dor, daí o choro. Sofre a mulher! Como sofre?! Não sabe, porém, que o seu amor está ferido. O homem que lhe ataca está enfermo. Foi contaminado pela língua dos que porfiam. Cego e de alma amarga. Esse é o estado do que é mordido pela discórdia.  


(David Luz em 22/03/14)

Crônica de um cadáver

Crônica de um cadáver

Naquele dia o sol reinava soberano sobre a cidade. Não havia se quer uma nuvem que o impedisse de impor sua luz e seu calor sobre nós. À sombra das árvores, aves de rapina buscavam algum refresco, enquanto nós todos nos acumulávamos num corredor mal refrigerado do hospital.
Estávamos mortos. Logo apodreceríamos naquele corredor.
Uma mosca enorme e colorida voava sobre nós, como um bem-te-vi entorno do seu ninho. Tínhamos para ela um valor inestimado, o valor de um lar.
Oito horas antes, em minha casa, eu despertava feliz para mais um dia de dificuldades. Um banho frio. Higiene bucal. Cueca, calça, cinto, camisa, meia e tênis. Café, leite, pão e manteiga. Telejornal. Oração. Tchau!
Já na rua, dirigi-me a estação de ônibus. Dinheiro, bilhete, roleta. Espera, espera, espera. Então, o ônibus. Espremido, imprensado, mas no ônibus. Assistia ao engarrafamento pelo vidro do coletivo. Graças a Deus estava no ônibus! Espremido, imprensado, mas no ônibus.
Inesperadamente uma freada. Tudo gira! Estilhaços, gritos! Aos pouco, o silêncio mortal. Então, sirenes, ambulâncias, bombeiros, paramédicos, corredor de hospital.
Não havia ninguém que se importasse conosco. Exceto a mosca. Essa sim não nos abandonaria. Teríamos o seu amor até o último pedaço de carne. Estava decidida: éramos o seu lar, a sua pátria! Lutaria por cada pedacinho de matéria pútrida.
O acidente fatal ocorrerá devido ao sono tão inapropriado quanto provável de um motorista inusitado, um professor que, depois de lecionar ininterruptamente nos três turnos do dia anterior, passara a noite corrigindo avaliações. O cansaço do mestre acrescido da lentidão no transito só poderia ter resultado em uma coisa: dormida ao volante. E a dormida ao volante desencadeou toda a cena hollywoodiana: o carro cruzou o sinal vermelho, invadindo a pista exclusiva do BRT, o motorista do coletivo, na tentativa de desviar o veículo e evitar a colisão, perdeu o controle ao bater na mureta de proteção. O enorme coletivo, à semelhança de um trem, descarrilou. Ele capotou umas três ou quatro vezes, antes de se chocar com os pilares de um viaduto.
Morri na hora. Tive esmagamento do crânio, mas não perdi nem um pouco da massa cefálica. O que me conservou a memória e o espírito crítico.

 (David Luz)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Pra eu amar...



Pra eu amar...



Para amar, há que se acessar o âmago alheio;


Não basta tocar os seios, beija-lhe afronte.


Para amar, não basta provar-lhe o gozo,


Provocar-lhe o prazer mais cheio.


Para amar, há que se penetrar o âmago alheio.




Para se amar, há que se desprender os freios;


Pois não se para quando ama, há inércia no amor.


Para se amar, há que se encontrar sem se perder;


Há que se precisar do olhar e depender do sorriso.


Há que se enxergar um futuro em Deus 


E não julgar o presente pelo passado.




Para amar, é necessário sorte e coragem!


Há que se decidir, há que se encorajar!


Para amar, Há que se investir tempo;


Há que se perguntar e há que se ouvir a resposta.


Para amar, há que ser divertido, mas sério.


Pra eu amar, tem que ser você!






David Luz


Rio de Janeiro


15/02/2013

Ciclo da vida


Ciclo da vida
Crescer é verter! Seja vida ou morte,
Quem verte cresce e flui.
Fluir é encontrar! Seja mérito ou sorte,
Quem encontra flui e é.
Ser é ser! Seja débil ou forte,
Que é cresce e verte.
David Luz
07/06/13

2013!


2013!


Demorei, mas reconheci o inevitável.

Os olhos se abriram, a voz não se calou.                 

Impossível! Bradaram alguns surpresos.

Suas expectativas foram ultrapassadas.


Melhor assim, pois vencemos juntos!

Independentemente do descrédito,

Labutamos para um sucesso: o amor.

E, ao encontrá-lo, não fomos frouxos!


Temos o mar por testemunha eterna.

Rede cujo embalo nos trouxe o sonho:

Emanuelle! Concebida, quase nascida.

                                                                                                               

Zombou Deus da lógica humana?!

Ele nos tirou do monturo  por graça!

Soli Deo Gloria!

Menina Castanha


Menina Castanha


Minina castanha,

Da cor dos meus olhos morenos.

Sua cor, seu sabor

Mora em meus pensamentos.


Menina sorriso,

Tal qual o som do blues,

Seu soar, seu sorrir

Mora num raio de luz .


Pele morena, pele castanha, beijada de sol.

Boca vermelha, sabor molhado,

Canção em Lá bemol!


David Luz (2013)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bienvenida la eternidad

Não te ocupes da vida que levo.


Não te perturbes do fim que espero.

Se da vida tens colhido prazeres,

Não te atenhas aos meus afazeres.



Que a vida é bela, nós o sofremos.

Se efêmera, poucos o sabemos.

Quando efígie, é Zeus sem equidade.

A vida: égide à eternidade!



Findo-a em um só golpe desvairado.

Reprovo-a em um só grito agastado.

Rompo-lhe frágil hímen infungível.



Não te atenhas aos meus afazeres:

Findo-a e Rompo-lhe, pois a Reprovo!

¡Es Bienvenida la eternidad!



David Luz

Rio, 13/10/2011.

Circunstâncias à morte

Quando vires o céu azul, morri.


Quando vierem as aves ao sul, parti.

Quando vires o mar acalmar-se,


Quando vier o peito a abrandar-se,

Quando vires o medo a sucumbir,

Quando vier o desespero a se despir,

Quando vires as tormentas se findarem,

Quando os aromas das rosas despertarem

Então, chegará minha alma ao HADES.

 
David Luz

Dedicatória

Dedico estes versos a vida alheia


E, posto que seja melhor que a minha,

Canto-lhe – pelas musas de Camões –

Obra pequena, medíocre e feia:

Homem sozinho, sem Deus, sem irmão.

 
David Luz

Iguais seríamos

Iguais seríamos se:


uma fosse a parideira

Cuja casa arquitetada

possuísse eira e beira

Sem padecer de colchão,

fogão ou geladeira;



Se às leituras de Homero

ninguém guardasse estranhamento

Que promove uma nobreza

e impede casamentos

Sem padecer de amor,

paixão ou sofrimento.



Igual seríamos se:

Jesus convertesse Maomé

E ensinasse o Corão

aos negros do candomblé

Depois de ouvir de um ateu:

Não desista tenha fé!



Se Comte contasse um conto

sem nada querer provar

Que provasse por experimento

que há coisas pra se explicar

Sem lançar mão das ciências,

buscado o positivar.



Igual seriamos:

Se “O negro também é dom!”

“Ser branco também é bom!”

Não cantássemos amotinados

No hino de toda nação;

Se o ser gente não houvesse tom.



Seriamos iguais,

Não fosse a falsa meritocracia,

A deturpação da democracia

A não compreensão do habitus

Que ao nos criar também nos guia

Obcecados a essa dicotomia.



Rio, 04/06/2011.

David Luz

Olhar de musa

Ao meu olhar, seja bem-vinda, Ó musa


desfarçada de ajudante! Raio fúlgido

deste nosso céu brilhante e azul, céu

de meus delírios ofegantes que

trazes a mim no instante, de repente.

Pois que, mesmo inocente, a culpo por

brilhar o teu sorriso no meu céu

Obsedando-me a razão com fel de

seu adeus silencioso a perscrutar.



Rio, 25/05/2011.

David Luz

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Communis error.

Embora, a um passo da vida, goze a morte;


É isto inextinguível eternidade.

Luzes baixas: sombras, ansiedade,

Mulher negra, tal qual aprouve à sorte,

Envolta em pano branco de equidade

Finge o prazer, sangra-lhe o corte.



Altas trevas, tudo é desejo.

Apenas eu não sou tudo.

Ao canto, desprezível e mudo,

Largo-me culpado do que vejo:

Algoz, insaciável e imundo

Provoca-lhe a ferida sem dar beijo.



O algoz tem muitas cabeças e membros,

Cada qual, no entanto, lhe concede pagamento.

Eis o veneno!Se pagas, tem aumento

o teu prazer, ó cavaleiro, posto que logo é novembro.

Sem pudor ou consciência várias vezes eu aguento

E – desde que decidi – não passo fome em dezembro.



Ao canto desprezível dos mudos,

Apenas prorrompo desconcertado:

Ó corpo negro, desalmado,

Resta-lhe de vida segundos.

A sacris, tens desdenhado,

Não mais sofrerás todo mundo.



David Luz

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Hora que tarda

Soa o sino em minha

Mente: badaladas, badaladas.

Sua o vinho em minha

Frente: gotas e gotas.

O som me introduz a nostalgia.

A dor me seduz a valentia.

Soa o sino: blén! Blén!

Sua em silêncio o vinho.

Recordo o tempo em seu bronze.

Saio do cronos por seu metal.

Saudai todos a hora final!

Por ora, aguardo-lhe chegar

Por hora é que sofro o vosso tardar.



David do N. Luz

Arcaísmo!

Aos olhos teus, os tenho fitos.

Encantos que mos impusestes vós.

Sepultá-los-ei no sarcófago de

minhas palavras cujos sentidos

hão desfigurado-se em arcaísmos.

De velhas que são já não hás tenho.

Está a memória perturbada.

Perturbada e velhamente gasta.

 
 
David do N. Luz

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma questão de fé!





Todo ser humano tem um lado espirituoso que se desenvolve em momentos de reflexão sobre a morte. O diálogo que segue se passaria fácilmente por fato, no entanto é apenas verossímil. Enquanto faz sua viagem cotidiana em um dos lotados ônibus da cidade do Rio de Janeiro, um homem de aproximadamente trinta anos de idade, semblante contraído, é abordado por um outro que,com muita dificuldade, chega-se a ele para iniciar um diálogo - daqueles socialmente esteriotipados.

-- Aqui está um folhetinho da palavra de Deus! Não rasgue, por favor.


-- Não quero! Já tenho minha religião.


-- Mas, religião não salva, filho. Só Jesus!


-- Que Jesus que nada! Eu sei o que vocês querem. Querem é que eu dê o meu dinheiro pro pastor! Bando de ladrões!


-- Não! Não é verdade! Nós queremos que você e sua família sejam salvos. Jesus está voltando!


-- Falam isso desde que minha avó era bebê! Querem é colocar medo nas pessoas pra roubarem o seu dinheiro suado. Aproveitadores!


-- Mesmo que não acredite em que Jesus vem buscar aqueles que crêem nele, você sabe que um dia a vida acaba. Não sabe?!

-- Não brinca?! E daí?! Que todo mundo morre todos sabemos. Mas olha, vou te dizer uma coisa: sua hora deve está bem mais próxima do que a minha, seu louco!


-- Amém! O morrer pra mim é lucro. E pra você o que é?!


-- Algo muito distante. Tenho a vida inteira pela frente. É isso! Estou apenas começando a me divertir nesta terra. E quer saber, esse papo de crente é pra maluco!


-- Muito Bom! Que filosofia excelente! Mas, você já parou pra pensar sobre quanto tempo é uma vida inteira?! Será que oitenta anos... ou noventa... ou mesmo cem?! E depois?! É certo a morte. E, após a partida deste mundo, o quê será que virá?!


-- Ah! Depois a gente reencarna, meu chapa! Vive tudo de novo! Ou... sei lá, não existe mais nada! É... é isso: não há nada depois da morte!


-- E se essas teorias estiverem erradas?! Você já refletiu sobre isso?! Já parou pra pensar que você pode ser responsável pelo sofrimento eterno das almas de todos na sua família?!


-- Como assim?! Não entendi!


-- Essas crenças que você acabou de me declarar. Se houver verdade nelas, eu nada tenho a temer, pois seguir os ensinamentos de Jesus me faz ser uma pessoa melhor nesta vida. Sendo assim, se depois da morte houvesse a reencarnação ou se não houvesse mais nada, pra mim seria indiferente! Agora, caso somente a bíblia esteja certa - como nós cremos - todos os que não se arrependerem aceitando a Jesus Cristo como único e suficiente salvador de suas vidas serão condenados no dia do grande juízo.


-- Você quer dizer que só vocês estão certos?! São os donos da verdade?!


-- Não! De maneira nenhuma! Estou dizendo que cremos em Jesus e em suas palavras e que não vemos nenhuma razão pra você desprezar-lo sem conhecer suas palavras.


-- Então, é uma questão de lógica?! Se eu sigo a bíblia me dou bem mesmo se ela não for verdadeira.


-- Não! Não é uma questão de lógica. Para nós, é uma questão de fé. Cremos na veracidade das escrituras. E isso acontece com qualquer pessoa que não rejeita a palavra, porque quando nós a ouvimos o Espírito é que nos convence.


-- Convence de quê?


-- De que ela é verdadeira.


-- O que a bíblia fala sobre a outra vida?


-- Na verdade, não é outra. Acontece que todos os seres humanos têm uma alma e ela jamais morrerá. Sim! Nossa alma viverá pra sempre com Deus ou longe dele.


¾ Pra sempre como assim?! Não existe pra sempre, um dia tudo acaba!


-- Nem tudo! Deus e o seu projeto para humanidade fogem a essa idéia de inicio e fim. Falo de ETERNIDADE!


-- E quanto às outras religiões? Ah! Já sei: estão todas errada!


-- A maioria das religiões prega que há uma chance depois da morte, no entanto a Bíblia condena as religiões ao dizer que se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. E fala também que a verdadeira religião é ajudar ao próximo e não se contaminar com as sujeiras do mundo.


-- Uma religião que condena à Religião?! Isso é contraditório de mais! É loucura, meu amigo! Será que você não vê?! Por isso que eu digo "religião e política, definitivamente, não se discutem". Então me deixa viver minha vida do meu jeito: tomando minha cervejinha, curtindo umas mulherezinhas. Que, assim, eu sou feliz ao menos nessa vida, que é a única certa.


-- A bíblia não apresenta uma religião. Ela nos ensina uma conduta de vida que agrada a Deus. Temos o direito de escolher, o livre arbítrio. Posso ler pra você um trecho que explica isso?


-- Só se você me prometer que depois me deixa em paz.


-- Como o senhor quiser.


-- Então, pode ler.


-- Diz assim: “Divirta-se, alegre o seu coração, anda pelos caminhos que satisfazem ao seu coração e agradam aos seus olhos na juventude... Sabe, porém, que, de todas essas coisas, Deus lhe pedirá contas.”. Posso ler só mais um trechinho? Eu prometo que vou deixar você em paz.


-- Onde está escrito isso?


-- No livro de Eclesiastes.


-- Pode continuar lendo. Afinal são sabias as palavras e eu até sinto certo arrepio.


-- Está escrito assim: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.”


-- Essas palavras são muito pesadas, o senhor não acha?!


-- Tudo que sei é que pra mim são totalmente verdadeiras.


-- Eu nunca parei pra ler, então não sei.


-- Ouvi alguém falar, sabiamente, que a maior de todas as ignorâncias é rejeitarmos aquilo que não conhecemos. Por isso eu peço que você se lembre de que a Bíblia não admite chance nenhuma depois da morte para os que não crêem no Filho de Deus e que você pode decidir onde quer viver a eternidade agora, enquanto há vida. Por favor, leia a bíblia, reflita e pesquise.


-- Mais dizem que é um livro muito difícil de compreender. Existe algum livro que ajude a entendê-la.


-- Até há, mas o importante é saber que a bíblia se explica por ela própria.


-- Não custa nada ler pra conhecer. Vou tirar minhas próprias conclusões.


-- Faça isso! Não perca a chance de saber o verdadeiro destino da sua alma.


-- Está bem! Agora me deixa descansar.


-- Claro! Obrigado pela atenção. E que o Espírito Santo lhe convença!





Rio de Janeiro, 25 de junho de 2010.


David do N. Luz

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Linguagem, o retrato real de uma sociedade.

Um dos conceitos mais importantes de Marx, a ideologia, é abordado por uma das maiores autoridades do marxismo no Brasil, Leandro Konder. Ele discorre sobre o conceito marxista e sua influência na construção do conhecimento em seu livro “A questão da ideologia” 1ª Edição 2002, Companhia das Letras, 280 páginas.

Certo de que “Um dos campos de observação mais ricos para o observador dos fenômenos ideológicos é, com certeza, o da linguagem”, cujos termos “põem a nu os valores das sociedades que os criam e os mantêm vivos”, pois “Ela não é só o meio pelo qual nos comunicamos e nos expressamos; é também, decisivamente, um elemento constitutivo do que somos. Uma revelação – sempre surpreendente – de como somos e como podemos nos tornar” e ainda convicto de que “É na linguagem, certamente, que se acham as chaves para a compreensão de alguns dos aspectos mais significativos da questão da ideologia”; o professor do Departamento de Educação da PUC/RJ e também do Departamento de História da UFF dedica o décimo - quinto capítulo da obra ao tema Ideologia e linguagem.

Unindo seu vasto conhecimento filosófico a sua capacidade avaliativa da linguagem, o filósofo parte de percepções menos teóricas de manifestações de distorções ideológicas na linguagem, tal qual a observação etimológica de alguns termos que na sua transição para outros idiomas tem o seu significado moldado por ideais presentes na sociedade que os utiliza; para, então, colocar seus leitores diante de importantes considerações teóricas sobre o nexo da ideologia com a linguagem, desenvolvidas por três pensadores – Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin e Jurgen Habermas.

Benjamin cuja teoria é de cunho “inequivocamente teológica” dizia haver a linguagem das coisas, de uso predominantemente criativo, e a linguagem dos homens, predominantemente comunicativa. Para ele “A criação de Deus se completa no momento em que as coisas ganham o nome delas, dados pelo ser humano”. A linguagem não seria, portanto, meramente funcional, “havia algo de essencial na dimensão nomeadora da linguagem, no poder que se manifesta na invenção dos nomes”. Para o teórico, substituir o uso criativo, inovador da linguagem pelo uso meramente comunicativo era, num primeiro momento, o pecado original do espírito lingüístico cometido pelo ser - humano. Porém, depois de sua aproximação ao marxismo, essa degradação da linguagem passou a girar mais entorno do ideal capitalista advindo com a ascensão da burguesia ao poder, “avassaladora transformação tendencial de todas as coisas em mercadorias”. Ele sustenta que a nova organização da sociedade foi afastando a linguagem de uma “certa magia que tinha nas suas origens”. E afirma que, por um lado, as inovações foram submetidas a critérios comunicativo-utilitarios e tornaram-se provenientes apenas de campos específicos, tecnológicos e pragmáticos; e, por outro lado, “o uso mais livremente criativo das palavras ligadas aos sentimentos vividos e as tensões da subjetividade ficou mais ou menos relegados a espontaneidade das crianças ou a audácia dos poetas, dos artistas”.

Mikhail Bakhtin discorda de Benjamin no que tange a criatividade lingüística. Para ele a linguagem estava sendo criada constantemente e o povo, os falantes, era quem desempenhava, ainda, o papel fundamental no processo. Bakhtin defendia que a objeção ao processo de coisificação da linguagem estava amplamente enraizada na fala das camadas populares, defendendo até mesmo que os palavrões, por exemplo, contribuíam para a criação de uma atmosfera de liberdade de criação lingüística e que o riso impedia a estratificação das expressões ideológicas sérias.

A teoria de Jurgen Habermas, por sua vez, apresenta objeções a de Bakhtin. Ele diz que para compreendermos com alguma objetividade a nossa realidade social devemos observar não o indivíduo, que é cheio de subjetividade, mas sim na interação que ocorre entre os indivíduos, sendo assim uma interação entre suas subjetividades. Diz também que não é a linguagem que determina a práxis humana, de outra forma a realidade vivida pelos indivíduos é que interfere em suas falas.

Leandro Konder encerra o capítulo definindo linguagem como um pré-requisito para que uma comunidade tome consciência da sua identidade e reconhecendo sua importância na compreensão de aspectos significativos da questão ideológica, não obstante conclui que a questão da ideologia não pode ser efetivamente resolvida exclusivamente em seu âmbito.

Citemos ainda, a fim de elucidação, o posicionamento de editores portugueses, os quais se vêem como colonizadores e donos da língua portuguesa, e que por isso buscam adaptar textos de autores brasileiros, vistos como colonizados falantes de um dialeto do português de Portugal. E, também, a definição totalmente preconceituosa de variante–padrão que, em geral, prestigia a fala do grupo minoritário, no entanto de maior poder aquisitivo, e põe a margem do idioma outras variantes as quais sofrem os mesmos preconceitos sofridos pelos seus falantes. Assim, citados estes dois exemplos, concluimos que a leitura do capitulo quinze da obra do professor Konder leva-nos então a compreensão de que a influência da ideologia na construção do conhecimento é facilmente percebida na linguagem, seja pela característica convencional do signo lingüístico, seja pela tentativa de definição de termos lingüísticos ambíguos tal qual língua e dialeto ou pela preponderância de determinada variante de uma língua sobre outras.



Por David Luz

sexta-feira, 19 de março de 2010

Memórias! Memórias!


Memória, memória! Que me dói, que me cura!
De romances, amores; de milícias, aventuras!
Memória distante de alegrias; recente de injurias!
Memória, memória! Que me dói, dói e cura!

Memória, memória!Devassa, infame, pura!
De maldades, rancores; de benevolências ternuras!
Memória infame de urgias; virtuosa de branduras!
Memória que dói: amor! Memória que cura: sepultura!

Memória, memória!
...Me dói! ...Me cura!
De romances... De milícias...
De maldades...De ternuras!

 
David do N. Luz
( ? )




Impôs o que sou, e ainda não eras ninguém muito precisamente.

Achou-me de intrometido e feito bandido que és - hoje doente -

Fizeste a ti dono meu quando nem mesmo teu o eras.

Quem o permitiu, cogito ainda hoje envolto nos trapos que MIM deixou.

MIM pôs tuas mãos acendedoras de velas - pra santos e defuntos -

Pensando MIM ser A Virgem deliciosa a espera do homem imundo.

E ao descobrir que meu prazer a outros já havia dado, te fizeste ainda o primeiro;

Contaste aos amigos, inimigos e todos me quiseram tomar-te,

Para assim como tu, MIM roubarem os tesouros que MIM foram dados quando ainda nu.

Impôs o que sou. E que coisa na verdade sou?

De Alencar, José MIM fez mulher - Iracema - de herói imundo que aqui pousou;

Macunaíma, sim!Andrade, disse o que sou!

Um pouco de cada, o mesmo que nada, conseqüência que restou.

 
 David do N. Luz
Que Me não deu...

O prazer, que me não deu, busco ainda hoje ser meu.
Ledo engano! Creio tanto! Utopia minha.
A pobreza que me deixa, cujo EGO MEO, mata:
Buscando ainda hoje, em trapos, o amor que me não deu.

Se o tivera não seria, ainda hoje, ardentemente meu.
Oxalá! Encontre-se o buscado: lhe ver amada! Sozinha!
Ver-lhe herdar o legado de mulher debalde amada
Que jamais amou: inda hoje, o amor seu, me não deu.

Me não deu! Ainda hoje busco (se é prazer) o amor seu.
Faz-me falta o amor! Não o quero Eu! O peito o aguarda.
O prazer, que me não deu, faz a pobreza que me deixa.

Não sou, Eu, o pobre que me fez! Busco ainda! Desejo seu.
Creio tanto! Que me não deu o amor que quis. Mata! Mata!
O desejo, que aflora: me não deu (se é prazer) o amor seu.

 
David do N. Luz
Farás um acerto


Farás um acerto no tempo:
Das horas tristes que tive
Aos dias pardos que viste,
Dar-me-ás contentamento.

Farás um acerto na vida:
Da aurora curta que deste
Aos nublados dias qual peste,
Dar-me-ás amor que viva.

Farás ainda outro acerto:
Das muitas gotas que viste
Dos poucos valores que tive,
Conceder-me-ás desprezo.


David do N. Luz
O tempo que te encanta, vive-o no momento!
De modo que te faz feliz, ama ainda que sem nome.
Do comum, desfruta copioso contentamento.
Em tempo sinto dizer-te o ser apenas homem.

Pois do tempo que busco estás saciada, amiga minha!
De modo tal te quero que  me tens - ó foco eficaz!
No tempo me quebras de satisfação, a praxe de rapaz!
Eis o presente modal absoluto: Amo ó amiga minha!


Tenho febre de amor, me não cures ainda!
Deixo-me infinitivo: arder, tremer, suar, amar.
È tempo de dor, não de cura. Futuro é virtual!


David do N. Luz                                                                          

domingo, 20 de dezembro de 2009

Soneto de união.

Trarás à vida que tenho uma completude!
Aos sonhos, aos desejos, ao chamado; as virtudes!
Todos os bens e cruz, como um, desfrutarão
As unidas vidas – completas vidas! Um só coração!

Aos sonhos, trarás desfechos e interpretações;
Aos desejos, controle, insondáveis imaginações!
Felicidades e pesares nos farão rir, sorrir, amar
Mesmo depois de guerras, de dor, ou prantear!

Sou praia tu mar, Banha-me!
Sou asa tu vento, Sustenta-me!
Sou sede tu água, Mata-me!

Bem e cruz somos os dois...
Inseparáveis, sempre juntos, um!
Até que a morte eternize!



David do N. Luz
Rio, maio de 2005.

Fazer forçado

Fazer forçado, Ninguém é livre!
Precisa-se de servo: alegre ou triste.
Desejo negado, Como se é feliz!
Sigo morrendo pelo fazer que quis.

Das vontades que tive morro
Dos desejos que guardo sofro
Da opressão fartam-se
Da liberdade privam-me

Ninguém Se é livre, Como é bom voar!
Pássaro lindo homem laço encarcerado
Livre escravo manso bravo fazer forçar...

Livre vôo! Destino inserto aterrissar.
Não há quem voe, o fazer forçado,
Não há ensinado o saber pousar.



David do N. Luz.
Rio, maio de 2005.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Nova cidadezinha

Casas entre prédios
Mulheres entre assédios
Provar desamor berrar

Um homem vai correndo
Um cachorro vai morrendo
Um burro vai forçado

Correndo... as janelas se vão de olhar

Vida sinistra, meu brother!


David do N. Luz
Rio, maio de 2005.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O novo antigo poema



Sempre que a ti venho,
sinto em meu coração
que novo poema tenho.
Novo é o poema
com suas palavras
que lhe traz o tema
alimentando-o da saudade,
qual antigo fogão à lenha.
Me engana o poema,
pois novo não é.
Nem o quero,
se novo vier .
Quero o antigo poema
gritando o antigo tema:
Eu amo esta mulher!



David Luz (16/12/2009)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Despedida















Na morte do outro, choro Eu.
Na falta do outro, morro Eu.
Voltarei a vê-la! - Gritam as lagrimas.
Mas o amor me faz sofrer a Ida-eterna.


Na vida tua, pude sorrir
Na presença tua, oh! Eu vivi!
Voltarei a vê-la! - Grita a alma.
Contudo, o amor ... sempre o amor!


Vá! Vá! Eu irei mais tarde.
Deixai-me viver o que me ensinaste!
Deixai-me viver o amor que me deste!


Adeus! Sim!A Deus pertences agora.
Foi sempre assim, ontem, hoje
E o será por toda a eternidade.








(David Luz- Um dia nos veremos Vovó! 02/06/2009)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ânsia de amor



Vento frio qual pele molhada,
trazes- me à face sofrida
a saudade aquecida
nos beijos de minha amada.

Tempo, és sempre de mais
quando longe de seus beijos
afogado em desejos
minha boca jaz.

Amor qual eternidade,
fazes-me ser todo dela
quando ao coração interpelas:
Sim, tu a amas de verdade!


David Luz
25/07/2009


Nada digo eu.

Nada digo eu.
Não digo nada mais...
não digo e não falo...
não falo nada mais...
não falo e não declaro...
não declaro nada...
nada declaro e ...
somente me calo..
calo e não digo...
e não falo que dói...
ou corrói ...
que destrói...
não destrói, mas...
dói e não corrói...
E nasce, cresce...
desce... não cresce
só pedi: pra crescer, pra
viver; e não dizer
o que palavras
conta não dão e
músicas insuficientes são
e vida, não... basta!
só gasta o tempo a vida...
não digo, não falo, não vivo...
não morro nem choro nem sorrio,
mas amo!

(David Luz - nada digo eu)

Dias felizes


-->
“Dias felizes não fazem poetas!...”
Alguém exclamou, morrendo, sem sonhos.
“Não se ama por quem é amado!..”
Gritou um solitário, com rancores.
De repente, porém,
calaram-se,
Arrependeram-se
Suspiraram
Pois viram a nós:
Juntos
Apaixonados.
Renasceu-lhes,pois a esperança.

David Luz 

Desabafo.


-->










 ...
 ...
 ...

Por mais que

Eu tente,

Não consigo;

É átomo abrindo.


É explosão vulcânica,

parto que

não pode

Ser esperado.


Cada segundo que

se demora à vida,

É o abraço eterno

ao nunca Desejado [...]


É preciso mas não possível.

É o sentimento maior que a necessidade?!

É a própria Necessidade em oposição a necessidade

De fazer o que manda a razão.

O Sentimento,

Esse à qual me refiro,

Com o coração é que se sente e com os OLHOS denuncia-se.

É o Desejado em objeção ao indispensável.



Por mais que me cale

as circunstâncias de tudo grosseira,

morro se não falar-te,

gritar-te, fazer prorromper-me com sonoridade:

Parei...Esperei...Expirei!

Teus OLHOS estes sim

calaram-me.



Estava de luto!

Morreu?!

O que o Teu coração

guardava Morreu.

Então morri por dentro.

Abriu-se o átomo,

Explodiu-se o vulcão em chamas imortais que matam,

Morreu o que anelava nascer.



Não falei

nem vivi,

somente Morri

E Desejei.




David Luz

Amor predestinado


Antes de tudo, eu te amo!
 
E no final de tudo te amo!


Porque sempre te amei.

Ainda quando não te amava,

já me deleitava nesse amor.

Enquanto te esperava eu te amei

E agora que chegaste te amarei.




David Luz

Identidade nacional

...










Somos exceção dum brado retumbante.
Brado que não demos!
Somos obscenos frutos dum povo infante,
Heróico e forte - Povo que não temos!


Somos o mar de excessos despercebidos
Pelos filhos desse solo desapercebido.
Somos o sonho intenso dos "Gigantes":
Nosso Bosque tem mais vida
E nossa Cidade mais amantes.


Somos ascensão capitalista inesperada.
Excelente maça em mãos desadestradas.
Eterna Progressão desOrdenada.
Num raio fúlgido, dum sol libertino,
Somos o lábaro que ostentas, ó Latinos!


Mas se ergues da Memória a clava inútil,
Verás que, por ti, entre nós, não há quem lute
Salve, Salve, cada um sua própria sorte!
Ó Patria armada, Em dor ladra da sua prole!


David Luz (01/12/2009)