segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma questão de fé!





Todo ser humano tem um lado espirituoso que se desenvolve em momentos de reflexão sobre a morte. O diálogo que segue se passaria fácilmente por fato, no entanto é apenas verossímil. Enquanto faz sua viagem cotidiana em um dos lotados ônibus da cidade do Rio de Janeiro, um homem de aproximadamente trinta anos de idade, semblante contraído, é abordado por um outro que,com muita dificuldade, chega-se a ele para iniciar um diálogo - daqueles socialmente esteriotipados.

-- Aqui está um folhetinho da palavra de Deus! Não rasgue, por favor.


-- Não quero! Já tenho minha religião.


-- Mas, religião não salva, filho. Só Jesus!


-- Que Jesus que nada! Eu sei o que vocês querem. Querem é que eu dê o meu dinheiro pro pastor! Bando de ladrões!


-- Não! Não é verdade! Nós queremos que você e sua família sejam salvos. Jesus está voltando!


-- Falam isso desde que minha avó era bebê! Querem é colocar medo nas pessoas pra roubarem o seu dinheiro suado. Aproveitadores!


-- Mesmo que não acredite em que Jesus vem buscar aqueles que crêem nele, você sabe que um dia a vida acaba. Não sabe?!

-- Não brinca?! E daí?! Que todo mundo morre todos sabemos. Mas olha, vou te dizer uma coisa: sua hora deve está bem mais próxima do que a minha, seu louco!


-- Amém! O morrer pra mim é lucro. E pra você o que é?!


-- Algo muito distante. Tenho a vida inteira pela frente. É isso! Estou apenas começando a me divertir nesta terra. E quer saber, esse papo de crente é pra maluco!


-- Muito Bom! Que filosofia excelente! Mas, você já parou pra pensar sobre quanto tempo é uma vida inteira?! Será que oitenta anos... ou noventa... ou mesmo cem?! E depois?! É certo a morte. E, após a partida deste mundo, o quê será que virá?!


-- Ah! Depois a gente reencarna, meu chapa! Vive tudo de novo! Ou... sei lá, não existe mais nada! É... é isso: não há nada depois da morte!


-- E se essas teorias estiverem erradas?! Você já refletiu sobre isso?! Já parou pra pensar que você pode ser responsável pelo sofrimento eterno das almas de todos na sua família?!


-- Como assim?! Não entendi!


-- Essas crenças que você acabou de me declarar. Se houver verdade nelas, eu nada tenho a temer, pois seguir os ensinamentos de Jesus me faz ser uma pessoa melhor nesta vida. Sendo assim, se depois da morte houvesse a reencarnação ou se não houvesse mais nada, pra mim seria indiferente! Agora, caso somente a bíblia esteja certa - como nós cremos - todos os que não se arrependerem aceitando a Jesus Cristo como único e suficiente salvador de suas vidas serão condenados no dia do grande juízo.


-- Você quer dizer que só vocês estão certos?! São os donos da verdade?!


-- Não! De maneira nenhuma! Estou dizendo que cremos em Jesus e em suas palavras e que não vemos nenhuma razão pra você desprezar-lo sem conhecer suas palavras.


-- Então, é uma questão de lógica?! Se eu sigo a bíblia me dou bem mesmo se ela não for verdadeira.


-- Não! Não é uma questão de lógica. Para nós, é uma questão de fé. Cremos na veracidade das escrituras. E isso acontece com qualquer pessoa que não rejeita a palavra, porque quando nós a ouvimos o Espírito é que nos convence.


-- Convence de quê?


-- De que ela é verdadeira.


-- O que a bíblia fala sobre a outra vida?


-- Na verdade, não é outra. Acontece que todos os seres humanos têm uma alma e ela jamais morrerá. Sim! Nossa alma viverá pra sempre com Deus ou longe dele.


¾ Pra sempre como assim?! Não existe pra sempre, um dia tudo acaba!


-- Nem tudo! Deus e o seu projeto para humanidade fogem a essa idéia de inicio e fim. Falo de ETERNIDADE!


-- E quanto às outras religiões? Ah! Já sei: estão todas errada!


-- A maioria das religiões prega que há uma chance depois da morte, no entanto a Bíblia condena as religiões ao dizer que se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. E fala também que a verdadeira religião é ajudar ao próximo e não se contaminar com as sujeiras do mundo.


-- Uma religião que condena à Religião?! Isso é contraditório de mais! É loucura, meu amigo! Será que você não vê?! Por isso que eu digo "religião e política, definitivamente, não se discutem". Então me deixa viver minha vida do meu jeito: tomando minha cervejinha, curtindo umas mulherezinhas. Que, assim, eu sou feliz ao menos nessa vida, que é a única certa.


-- A bíblia não apresenta uma religião. Ela nos ensina uma conduta de vida que agrada a Deus. Temos o direito de escolher, o livre arbítrio. Posso ler pra você um trecho que explica isso?


-- Só se você me prometer que depois me deixa em paz.


-- Como o senhor quiser.


-- Então, pode ler.


-- Diz assim: “Divirta-se, alegre o seu coração, anda pelos caminhos que satisfazem ao seu coração e agradam aos seus olhos na juventude... Sabe, porém, que, de todas essas coisas, Deus lhe pedirá contas.”. Posso ler só mais um trechinho? Eu prometo que vou deixar você em paz.


-- Onde está escrito isso?


-- No livro de Eclesiastes.


-- Pode continuar lendo. Afinal são sabias as palavras e eu até sinto certo arrepio.


-- Está escrito assim: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.”


-- Essas palavras são muito pesadas, o senhor não acha?!


-- Tudo que sei é que pra mim são totalmente verdadeiras.


-- Eu nunca parei pra ler, então não sei.


-- Ouvi alguém falar, sabiamente, que a maior de todas as ignorâncias é rejeitarmos aquilo que não conhecemos. Por isso eu peço que você se lembre de que a Bíblia não admite chance nenhuma depois da morte para os que não crêem no Filho de Deus e que você pode decidir onde quer viver a eternidade agora, enquanto há vida. Por favor, leia a bíblia, reflita e pesquise.


-- Mais dizem que é um livro muito difícil de compreender. Existe algum livro que ajude a entendê-la.


-- Até há, mas o importante é saber que a bíblia se explica por ela própria.


-- Não custa nada ler pra conhecer. Vou tirar minhas próprias conclusões.


-- Faça isso! Não perca a chance de saber o verdadeiro destino da sua alma.


-- Está bem! Agora me deixa descansar.


-- Claro! Obrigado pela atenção. E que o Espírito Santo lhe convença!





Rio de Janeiro, 25 de junho de 2010.


David do N. Luz

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Linguagem, o retrato real de uma sociedade.

Um dos conceitos mais importantes de Marx, a ideologia, é abordado por uma das maiores autoridades do marxismo no Brasil, Leandro Konder. Ele discorre sobre o conceito marxista e sua influência na construção do conhecimento em seu livro “A questão da ideologia” 1ª Edição 2002, Companhia das Letras, 280 páginas.

Certo de que “Um dos campos de observação mais ricos para o observador dos fenômenos ideológicos é, com certeza, o da linguagem”, cujos termos “põem a nu os valores das sociedades que os criam e os mantêm vivos”, pois “Ela não é só o meio pelo qual nos comunicamos e nos expressamos; é também, decisivamente, um elemento constitutivo do que somos. Uma revelação – sempre surpreendente – de como somos e como podemos nos tornar” e ainda convicto de que “É na linguagem, certamente, que se acham as chaves para a compreensão de alguns dos aspectos mais significativos da questão da ideologia”; o professor do Departamento de Educação da PUC/RJ e também do Departamento de História da UFF dedica o décimo - quinto capítulo da obra ao tema Ideologia e linguagem.

Unindo seu vasto conhecimento filosófico a sua capacidade avaliativa da linguagem, o filósofo parte de percepções menos teóricas de manifestações de distorções ideológicas na linguagem, tal qual a observação etimológica de alguns termos que na sua transição para outros idiomas tem o seu significado moldado por ideais presentes na sociedade que os utiliza; para, então, colocar seus leitores diante de importantes considerações teóricas sobre o nexo da ideologia com a linguagem, desenvolvidas por três pensadores – Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin e Jurgen Habermas.

Benjamin cuja teoria é de cunho “inequivocamente teológica” dizia haver a linguagem das coisas, de uso predominantemente criativo, e a linguagem dos homens, predominantemente comunicativa. Para ele “A criação de Deus se completa no momento em que as coisas ganham o nome delas, dados pelo ser humano”. A linguagem não seria, portanto, meramente funcional, “havia algo de essencial na dimensão nomeadora da linguagem, no poder que se manifesta na invenção dos nomes”. Para o teórico, substituir o uso criativo, inovador da linguagem pelo uso meramente comunicativo era, num primeiro momento, o pecado original do espírito lingüístico cometido pelo ser - humano. Porém, depois de sua aproximação ao marxismo, essa degradação da linguagem passou a girar mais entorno do ideal capitalista advindo com a ascensão da burguesia ao poder, “avassaladora transformação tendencial de todas as coisas em mercadorias”. Ele sustenta que a nova organização da sociedade foi afastando a linguagem de uma “certa magia que tinha nas suas origens”. E afirma que, por um lado, as inovações foram submetidas a critérios comunicativo-utilitarios e tornaram-se provenientes apenas de campos específicos, tecnológicos e pragmáticos; e, por outro lado, “o uso mais livremente criativo das palavras ligadas aos sentimentos vividos e as tensões da subjetividade ficou mais ou menos relegados a espontaneidade das crianças ou a audácia dos poetas, dos artistas”.

Mikhail Bakhtin discorda de Benjamin no que tange a criatividade lingüística. Para ele a linguagem estava sendo criada constantemente e o povo, os falantes, era quem desempenhava, ainda, o papel fundamental no processo. Bakhtin defendia que a objeção ao processo de coisificação da linguagem estava amplamente enraizada na fala das camadas populares, defendendo até mesmo que os palavrões, por exemplo, contribuíam para a criação de uma atmosfera de liberdade de criação lingüística e que o riso impedia a estratificação das expressões ideológicas sérias.

A teoria de Jurgen Habermas, por sua vez, apresenta objeções a de Bakhtin. Ele diz que para compreendermos com alguma objetividade a nossa realidade social devemos observar não o indivíduo, que é cheio de subjetividade, mas sim na interação que ocorre entre os indivíduos, sendo assim uma interação entre suas subjetividades. Diz também que não é a linguagem que determina a práxis humana, de outra forma a realidade vivida pelos indivíduos é que interfere em suas falas.

Leandro Konder encerra o capítulo definindo linguagem como um pré-requisito para que uma comunidade tome consciência da sua identidade e reconhecendo sua importância na compreensão de aspectos significativos da questão ideológica, não obstante conclui que a questão da ideologia não pode ser efetivamente resolvida exclusivamente em seu âmbito.

Citemos ainda, a fim de elucidação, o posicionamento de editores portugueses, os quais se vêem como colonizadores e donos da língua portuguesa, e que por isso buscam adaptar textos de autores brasileiros, vistos como colonizados falantes de um dialeto do português de Portugal. E, também, a definição totalmente preconceituosa de variante–padrão que, em geral, prestigia a fala do grupo minoritário, no entanto de maior poder aquisitivo, e põe a margem do idioma outras variantes as quais sofrem os mesmos preconceitos sofridos pelos seus falantes. Assim, citados estes dois exemplos, concluimos que a leitura do capitulo quinze da obra do professor Konder leva-nos então a compreensão de que a influência da ideologia na construção do conhecimento é facilmente percebida na linguagem, seja pela característica convencional do signo lingüístico, seja pela tentativa de definição de termos lingüísticos ambíguos tal qual língua e dialeto ou pela preponderância de determinada variante de uma língua sobre outras.



Por David Luz

sexta-feira, 19 de março de 2010

Memórias! Memórias!


Memória, memória! Que me dói, que me cura!
De romances, amores; de milícias, aventuras!
Memória distante de alegrias; recente de injurias!
Memória, memória! Que me dói, dói e cura!

Memória, memória!Devassa, infame, pura!
De maldades, rancores; de benevolências ternuras!
Memória infame de urgias; virtuosa de branduras!
Memória que dói: amor! Memória que cura: sepultura!

Memória, memória!
...Me dói! ...Me cura!
De romances... De milícias...
De maldades...De ternuras!

 
David do N. Luz
( ? )




Impôs o que sou, e ainda não eras ninguém muito precisamente.

Achou-me de intrometido e feito bandido que és - hoje doente -

Fizeste a ti dono meu quando nem mesmo teu o eras.

Quem o permitiu, cogito ainda hoje envolto nos trapos que MIM deixou.

MIM pôs tuas mãos acendedoras de velas - pra santos e defuntos -

Pensando MIM ser A Virgem deliciosa a espera do homem imundo.

E ao descobrir que meu prazer a outros já havia dado, te fizeste ainda o primeiro;

Contaste aos amigos, inimigos e todos me quiseram tomar-te,

Para assim como tu, MIM roubarem os tesouros que MIM foram dados quando ainda nu.

Impôs o que sou. E que coisa na verdade sou?

De Alencar, José MIM fez mulher - Iracema - de herói imundo que aqui pousou;

Macunaíma, sim!Andrade, disse o que sou!

Um pouco de cada, o mesmo que nada, conseqüência que restou.

 
 David do N. Luz
Que Me não deu...

O prazer, que me não deu, busco ainda hoje ser meu.
Ledo engano! Creio tanto! Utopia minha.
A pobreza que me deixa, cujo EGO MEO, mata:
Buscando ainda hoje, em trapos, o amor que me não deu.

Se o tivera não seria, ainda hoje, ardentemente meu.
Oxalá! Encontre-se o buscado: lhe ver amada! Sozinha!
Ver-lhe herdar o legado de mulher debalde amada
Que jamais amou: inda hoje, o amor seu, me não deu.

Me não deu! Ainda hoje busco (se é prazer) o amor seu.
Faz-me falta o amor! Não o quero Eu! O peito o aguarda.
O prazer, que me não deu, faz a pobreza que me deixa.

Não sou, Eu, o pobre que me fez! Busco ainda! Desejo seu.
Creio tanto! Que me não deu o amor que quis. Mata! Mata!
O desejo, que aflora: me não deu (se é prazer) o amor seu.

 
David do N. Luz
Farás um acerto


Farás um acerto no tempo:
Das horas tristes que tive
Aos dias pardos que viste,
Dar-me-ás contentamento.

Farás um acerto na vida:
Da aurora curta que deste
Aos nublados dias qual peste,
Dar-me-ás amor que viva.

Farás ainda outro acerto:
Das muitas gotas que viste
Dos poucos valores que tive,
Conceder-me-ás desprezo.


David do N. Luz
O tempo que te encanta, vive-o no momento!
De modo que te faz feliz, ama ainda que sem nome.
Do comum, desfruta copioso contentamento.
Em tempo sinto dizer-te o ser apenas homem.

Pois do tempo que busco estás saciada, amiga minha!
De modo tal te quero que  me tens - ó foco eficaz!
No tempo me quebras de satisfação, a praxe de rapaz!
Eis o presente modal absoluto: Amo ó amiga minha!


Tenho febre de amor, me não cures ainda!
Deixo-me infinitivo: arder, tremer, suar, amar.
È tempo de dor, não de cura. Futuro é virtual!


David do N. Luz