Embora, a um passo da vida, goze a morte;
É isto inextinguível eternidade.
Luzes baixas: sombras, ansiedade,
Mulher negra, tal qual aprouve à sorte,
Envolta em pano branco de equidade
Finge o prazer, sangra-lhe o corte.
Altas trevas, tudo é desejo.
Apenas eu não sou tudo.
Ao canto, desprezível e mudo,
Largo-me culpado do que vejo:
Algoz, insaciável e imundo
Provoca-lhe a ferida sem dar beijo.
O algoz tem muitas cabeças e membros,
Cada qual, no entanto, lhe concede pagamento.
Eis o veneno!Se pagas, tem aumento
o teu prazer, ó cavaleiro, posto que logo é novembro.
Sem pudor ou consciência várias vezes eu aguento
E – desde que decidi – não passo fome em dezembro.
Ao canto desprezível dos mudos,
Apenas prorrompo desconcertado:
Ó corpo negro, desalmado,
Resta-lhe de vida segundos.
A sacris, tens desdenhado,
Não mais sofrerás todo mundo.
David Luz
Nenhum comentário:
Postar um comentário